Costa não cede e povo volta às ruas amanhã (Tribuna da Imprensa há 40 anos)
3 de julho de 1968
Os estudantes da Guanabara decidiram voltar às ruas amanhã, em face da recusa do presidente Costa e Silva em atender às suas reivindicações básicas: reabertura do restaurantre do Calabouço e a libertação dos colegas presos. O encontro do marechal com a Comissão dos "Cem Mil" ontem, em Brasília, nada produziu. Fechando questão naqueles dois pontos, o presidente da República baseou toda a sua argumentação em preconceitos e fez exigências que a Comissão classificou de "inaceitáveis".
Uma delas, por exemplo, estipulava que os estudantes seriam soltos se assumissem o compromisso de "nunca mais haver passeatas". Quanto ao Calabouço, o marechal nem sequer aceitou discutir mais o assunto. Da passeata de amanhã participarão, além dos estudantes, organizações femininas, de pais, mestres, sindicais, grupos intelectuais e artísticos.
A marcha foi permitida oficialmente pelo sr. Negrão de Lima que, entretanto, fez uma ameaça velada: "A Cidade não poderá ser paralisada uma vez por semana". Os estudantes de São Paulo sairão às ruas hoje à tarde em protesto contra a prisão de dezesseis colegas.
Regresso de Lacerda surpreende a todos e preocupa governo
O regresso antecipado do sr. Carlos Lacerda provocou ontem, em todos os escalões do governo, a maior preocupação. Nos setores militares, a notícia do retorno do ex-governador surpreendeu até os responsáveis pelas repartições oficiais de segurança, enquanto a área civil só tomou conhecimento do fato através do noticiário das emissoras de rádio e de televisão, às últimas da tarde.
Assessores do ministro da Justiça desmentiram, formalmente, que tenha caráter oficial a ameaça já feita ao sr. Carlos Lacerda de que, no caso de atacar novamente as autoridades governamentais, o seu processo anterior, onde aparece enquadrado na Lei de Segurança Nacional, seria imediatamente encaminhado ao presidente Costa e Silva. "Na área civil - acentuaram - nada existe de concreto contra o ex-governador".
Lideranças do governo buscam fórmula para evitar uma crise
Interessados no encaminhamento de uma fórmula política que assegure a estabilidade do regime e evite a possibilidade de edição de atos excepcionais, as lideranças políticas do governo mostravam-se ontem muito preocupadas, principalmente o senador Daniel Krieger que, atento à gravidade da situação e após estabelecer diversos contatos, chegou a admitir a possibilidade de suspender sua viagem à Alemanha, já marcada há mais de um mês para hoje.
Comentava-se nos meios políticos que o governo, em face da crise que se esboça, pretende agir em duas frentes para garantir a autoridade do presidente da República; através da repressão à ação subversiva e atuando para o estabelecimento do diálogo "com aqueles que esteja realmente dispostos a dialogar".
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