Estudantes querem julgar carrascos
(Manchete da TRIBUNA DA IMPRENSA de 3 de abril de 1968)
Líderes estudantis da Guanabara instituirão um Tribunal Popular de Justiça, para julgar os autores da morte de Édson Luís, em praça pública. Tomarão parte neste tribunal deputados, intelectuais, artistas de teatro, estudantes e jornalistas. O tribunal deverá se reunir na Cinelândia, no dia 21 de abril, dia do aniversário da morte de Tiradentes, "com ou sem permissão da Polícia".
Estas declarações foram prestadas à Tribuna pelos líderes estudantis que estiveram reunidos ontem para coordenar a continuação das manifestações de protesto contra a morte de Édson Luís. Ainda na mesma reunião, ficou acertado o local da realização da missa do 7º dia do estudante e hoje concentração no Méier para acompanhar o enterro do funcionário David de Sousa, morto pela polícia nas manifestações estudantis de segunda-feira.
Polícia pronta para agir na missa
A Polícia Militar da Guanabara já está mobilizada para impedir quaisquer manifestações estudantis na oportunidade da celebração, amanhã, da missa de sétimo dia por alma do estudante Édson Luís, morto à bala no Calabouço. A informação é do secretário de Segurança Pública, general Dario Coelho, acrescentando que o plano foi travado em conjunto com as Forças Armadas.
Durante o dia de ontem, após a retirada da tropa federal para os quartéis, novas escaramuças entre estudantes e PMs ocorreram na Praça Tiradentes e na Rua Senhor dos Passos, à tarde, sendo presa três pessoas. Além disso, três carros oficiais foram apedrejados, o que aumenta para 18 o número de viaturas oficiais atingidas no decorrer dos acontecimentos que se precipitaram desde quinta-feira passada.
A PM permanece em prontidão permanente, moblizados 10.200 homens, enquanto a Superintendência de Transportes expediu ordem de serviço proibindo, a não ser em casos extremos, a saída de carros oficiais à rua. E na Câmara dos Deputados, foi constituída, ontem, CPI para investigar a situação.
Deputado condena recuo do presidente do PMB
BRASÍLIA (Sucursal) - O deputado Helio Navarro (MDB-SP) condenou declarações do presidente do seu partido, senador Oscar Passos, segundo as quais "a presença de alguns eminentes membros da agremiação, nas manifestações estudantis, não pode ser confundida com o MDB". Na sua opinião, tais afirmações não correspondem ao sentimento e ao pensamento da bancada federal emedebista, além de a desmoralizarem perante a opinião pública.
Considera que as ponderações do senador Oscar Passos deixaram-no numa posição insustentável na presidência do partido oposicionista. Sustentando que a violência gera a violência, o deputado Unírio Machado, ao tratar da morte do estudante Édson Luís durante o grande expediente da sessão de ontem, condenou as soluções policiais nas livres manifestações estudantis, salientando que não fora a insensatez das medidas de forças, por certo o movimento estudantil teria ficado restrito.
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