Governo veta mas arenistas apóiam anistia (Tribuna da Imprensa - 9 de agosto de 1968)

Não obstante o veto do governo, a Comissão de Justiça da Câmara aprovou, ontem, por 13 votos a 1, o projeto que concede anistia a estudantes e operários envolvidos nos acontecimentos desencadeados com a morte do estudante Édson de Lima Souto. Agora a proposição será submetida a plenário, que poderá igualmente aprová-la, pois uma parte considerável da Arena está favorável à medida. Ainda na área estudantil, Wladimir Palmeira, cujo depoimento na polícia transcrevemos na íntegra, poderá ser posto em liberdade, nas próximas horas, caso o Superior Tribunal Militar conceda, hoje, o habeas-corpus impetrado em seu, favor. Mas de Brasília a palavra de ordem é a luta aberta contra o governo, segundo os termos de um manifesto distribuído, ontem, pelos estudantes.

Governo ameaça enquadrar comércio

O presidente Costa e Silva, antes de viajar para a Amazônia, recomendou aos assessores jurídicos do governo que promovam estudos para permitir o enquadramento na Lei de Segurança Nacional dos comerciante que especulam no comércio atacadista e varejista de todo o País, e que são os responsáveis, segundo o entendimento de autoridades governamentais, "pela injustificada elevação do custo de vida".

Um dos juristas que está estudando a matéria confidenciou ontem que os responsáveis pela política econômica do governo não encontram explicações para os índices de elevação do custo de vida verificados no mês passado, que contrariam todas as estimativas oficiais. Entendem que muitos comerciantes estão se aproveitando das crises políticas ocorridas no País para alterar os preços de seus produtos, muitos agindo criminosamente, "com ânsia redobrada de enriquecer depressa".

Costa repele ditadura

"Jamais serei um ditador", eis o que disse, ontem, o marechal Costa e Silva, ao receber o título de cidadão honorário do Amazonas, que lhe foi conferido pela Assembléia Legislativa daquele Estado. Depois de ressaltar que vivemos em uma hora de dificuldades, o presidente da República se referiu à "aflitiva inquietude e às reivindicações tantas vezes justas dos moços das nossas escolas superiores", mas condenou os desrespeitos à lei que, no seu entender, cometem, com freqüência, os estudantes.

O discurso do marechal Costa e Silva teve como característica principal a importância que deu à crise estudantil, chegando inclusive a citar, com números, os prejuízos que ela acarretou ao País, através da queda brusca na arrecadação dos impostos.

Miami: negros fazem motins

Enquanto Nixon pronunciava o seu discurso de aceitação da candidatura à Presidência dos Estados Unidos, os negros provocavam novos motins, saqueando e incendiando estabelecimentos comerciais, no bairro de "Liberty City", em Miami, a cerca de 10 quilômetros do local onde se realizava a convenção do Partido Republicano.

A polícia interveio com violência, disparando contra os negros, que se valeram de coquetéis molotov em suas depredações. Embora não se saiba o número de vítimas, teme-se que haja muitos feridos em conseqüência do fogo cerrado dos policiais, que passaram, em seguida, a perseguir os negros, quando estes fugiam desesperados com a fumaça do gás lacrimogêneo.