quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Anos de Chumbo

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A expressão anos de chumbo foi aplicada inicialmente a um fenômeno europeu, relacionado com a Guerra Fria e com a estratégia da tensão. Designa o período compreendido aproximadamente entre o pós-1968 e o fim dos anos 1970, na Alemanha, ou meados dos anos 1980, na França e na Itália - anos marcados por violência política, luta armada e terrorismo de esquerda e de direita, bem como pelo endurecimento do aparato repressivo dos estados democráticos da Europa Ocidental.

Posteriormente a expressão passou a designar esse período de radicalização política, também fora da Europa - particularmente nos países do Cone Sul.
Índice

* 1 Origem da expressão
* 2 Os anos de chumbo no Brasil
o 2.1 As vítimas do regime
* 3 Os anos de chumbo na Europa
* 4 Alemanha
* 5 França
* 6 Grécia
* 7 Itália
o 7.1 Bibliografia
* 8 Referências
* 9 Ver também
* 10 Ligações externas

Origem da expressão

O uso expressão "anos de chumbo" para designar o período foi adotado em vários países (anni di piombo, années de plomb, years of lead), inclusive no Brasil, e deriva do título do filme "Die Bleierne Zeit" 1981) (em português, literalmente, "Tempos de chumbo"), que projetou a cineasta alemã Margarethe Von Trotta, após merecer o Leão de Ouro do Festival Internacional de Cinema de Veneza. O filme é inspirado na história das irmãs Christiane e Gudrun Ensslin: Gudrun era da liderança do Baader-Meinhof e morreu - assim como Andreas Baader, Ulrike Meinhof, Holger Meins e Jan-Carl Raspe - dentro da prisão de segurança máxima de Stammheim, em 1977. O título do filme, por sua vez, é uma citação do poema de Hölderlin, "Passeio ao campo" (Der Gang aufs Land, 1800). [1]
Os anos de chumbo no Brasil

Crystal Clear app xmag.pngVer artigo principal: Ditadura militar no Brasil

Os Anos de Chumbo foram o período mais repressivo da ditadura militar no Brasil, estendendo-se basicamente do fim de 1968, com a edição do AI-5 em 13 de dezembro daquele ano, até o final do governo Médici, em março de 1974. Alguns, reservam a expressão "anos de chumbo" especificamente para o governo Médici. [2] O período se destaca pelo feroz combate entre a extrema-esquerda, de um lado, e de outro, o aparelho policial-militar do Estado, eventualmente apoiado por organizações paramilitares, tendo como pano de fundo, o contexto da Guerra Fria.

Foram também os anos do chamado milagre econômico brasileiro, período de intenso crescimento econômico. De 1968 a 1973 o PIB do Brasil cresceu acima de 10% ao ano, em média, apesar da inflação, que oscilou entre 15% e 20% ao ano, e da grande concentração de renda, com redução dos salários reais, acentuação da desigualdade social e aumento da pobreza, com cerceamento às liberdades individuais associado à repressão política.
As vítimas do regime

Crystal Clear app xmag.pngVer artigo principal: Desaparecidos políticos no Brasil

Durante os vinte e um anos de duração do Regime Militar houve vítimas de ambos os lados, sem distinção. Desde integrantes de grupos de esquerda que pregavam a luta armada, passando por estudantes, jornalistas, operários, políticos, religiosos e militares. A lista a seguir traz alguns deles.
Os anos de chumbo na Europa

Na Europa, os "anos de chumbo" se referem, grosso modo, aos anos 1970, embora alguns atos terroristas tenham sido cometidos na década anterior e também na seguinte. Trata-se de período marcado por numerosas ações terroristas, tanto de esquerda quanto de direita - sobretudo na Itália, na Grécia e na Alemanha - que os historiadores contemporâneos ainda não esclareceram completamente

Dentre os mais notórios grupos armados de esquerda , estão o alemão Facção Exército Vermelho, mais conhecido como Baader-Meinhof, o francês Ação direta e as Brigadas Vermelhas italianas. Eventualmente, esse "terrorismo vermelho" se utilizou do conceito de propaganda pelo ato, desenvolvido nos meios anarquistas do fim do século XIX, conquanto alguns ataques da RAF contra as bases da OTAN fizessem parte de uma estratégia de apoio aos movimentos de descolonização, notadamente, o Viet-minh.

Os grupos de extrema direita não tiveram a mesma exposição midiática, e duvidava-se até mesmo da sua existência, até o início dos anos 1980, quando passaram a ser referidos mesmo nos círculos oficiais, e, a partir de então, frequentemente relacionados às células stay-behind e especialmente à rede Gladio. Dentre esses grupos, destacam-se o Ordine Nuovo e a Avanguardia Nazionale gayy
[editar] Alemanha

Na Alemanha Ocidental, a Facção do Exército Vermelho (Rote armee fraktion, RAF) (1970-1988), que ficou mais conhecida como Baader-Meinhof) participa de atentados, alguns contra bases da OTAN, cometidos à época da guerra do Vietnam. O grupo também sequestrou e matou um membro do patronato alemão e antigo integrante da SS Hans-Martin Schleyer.

A RAF foi a principal e mais estruturada organização de extrema esquerda alemã, e desde meados dos anos 1970, contava com apoios na Bélgica, notadamente da parte de Pierre Carette - futuro dirigente das Células Comunistas Combatentes (Cellules communistes combattantes, CCC), que nos anos de 1984 e 1985, perpetraram 28 atentados no território belga. Com a francesa Action Directe, a RAF representará a corrente não marxista-leninista da guerrilha urbana, na Europa Ocidental.
[editar] França

A Ação Direta (Action Directe, AD, 1979-1987) foi uma organização de luta armada ativa na França, fundada por antigos militantes dos Gari, Grupos de ação revolucionária internacionalistas (Groupes d'action révolutionnaire internationalistes) e dos Napap -Núcleos armados pela autonomia popular (Noyaux armés pour l'autonomie populaire). Anti-impérialista de tendência marxista antileninista, a AD também se beneficiará de algumas bases clandestinas na Bélgica.
[editar] Grécia

Na Grécia, o regime dos coronéis, que se havia instalado desde o golpe de estado de 1967, enfrenta atentados de alguns grupos armados, dentre os quais a Organização revolucionária 17 de Novembro, que só foi foi extinta em 2003.
[editar] Itália

Segundo o historiador Pierre Milza, depois de trinta anos, a interpretação do fenômeno do terrorismo que transtornou a República Italiana entre 1969 e o fim dos anos 1980 continua sendo uma tarefa difícil, tantos são os atores e tantas são as questões relevantes de política interna como as que dizem respeito à situação política internacional. Globalmente, segundo o historiador, o fenômeno traduz um confronto entre as democracias liberais e o "socialismo real". [3]

A Itália foi abalada durante duas décadas por ações terroristas reivindicadas por grupos, incialmente de extrema direita e depois, de extrema esquerda. As Brigadas Vermelhas - BR (Brigate rosse, 1970), a mais conhecida das organizações desse período, são simultaneamente um movimento político implantado nas fábricas e uma organização de luta armada. Identificadas com a corrente marxista-leninista pela fundação do Partido Comunista Combatente (PCC), elas serão referência para o CCC na Bélgica. Atualmente, embora muito enfraquecidas, as BR ainda existem, sendo a mais antiga organização de guerrilha da Itália.

Segundo Agamben, "a classe política italiana, com raríssimas exceções, nunca admitiu francamente que tenha havido na Itália algo como uma guerra civil, tampouco concedeu à batalha desses anos de chumbo um caráter autenticamente político. Os delitos que foram cometidos durante essa época eram, por conseguinte, delitos de direito comum e continuam sendo. Essa tese, com certeza discutível no plano histórico, poderia no entanto passar por inteiramente legítima, se não fosse desmentida por uma contradição evidente: para reprimir esses delitos de direito comum, essa mesma classe política recorreu a uma série de leis de exceção que limitavam seriamente as liberdades constitucionais e introduziram na ordem jurídica princípios que sempre foram considerados alheios a essa ordem. Quase todos os que foram condenados, foram incomodados e perseguidos com base nessas leis especiais. Porém, a coisa mais inacreditável é que essas mesmas leis ainda estão em vigor e projetam uma sombra sinistra na vida de nossas instituições democráticas." [4]
[editar] Bibliografia

* Pierre Milza, "Les "années de plomb". In Histoire de l'Italie, Fayard, 2006, p. 959.
* Isabelle Sommier, "Les années de plomb" : un passé qui ne passe pas", Mouvements, n° 27/28 mai-juin-juillet-août 2003, p. 196-202.

Referências

1. ↑ Komm! ins Offene, Freund! zwar glänzt ein Weniges heute/ Nur herunter und eng schließet der Himmel uns ein./ Weder die Berge sind noch aufgegangen des Waldes/ Gipfel nach Wunsch und leer ruht von Gesange die Luft. / Trüb ists heut, es schlummern die Gäng' und die Gassen und fast will / Mir es scheinen, es sei, als in der bleiernen Zeit... ("Vem, amigo, até o campo!/ Pouco luminoso está o dia hoje e o céu fecha-se sobre nós./ Nem os montes nem as árvores da floresta se abrem como gostaríamos e o ar repousa, vazio de cânticos. / O dia está sombrio, dormitam as travessas e as vielas e quase me parece atravessarmos um tempo de chumbo...". Elegias. Trad. de Maria Teresa Dias Furtado).
2. ↑ Folha Online, 30 de dezembro de 2008 - AI-5 deu início aos "Anos de Chumbo" da ditadura militar
3. ↑ Pierre Milza Histoire de l'Italie, Fayard, 2006, p. 959-960.
4. ↑ AGAMBEN, Giorgio Do bom uso da memória e do esquecimento In: NEGRI, Toni. Exílio (seguido de valor e afeto). Trad. Renata Cordeiro. São Paulo, Editora Iluminuras Ltda, 2001.]

Ver também

* Gladio
* Stefano Delle Chiaie
* Comando de caça aos comunistas
* SNI
* DOPS
* DOI-CODI
* Pára-SAR

Ligações externas

* Acervo da Luta Contra a Ditadura
* Anos de Chumbo
* Os cegos e Os Anos de Chumbo
* Grupo de Estudos sobre a Ditadura Militar (UFRJ)

Obtido em "http://pt.wikipedia.org/wiki/Anos_de_chumbo"